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terça-feira, 21 de julho de 2020

HISTÓRIA T6

O Brasil após a Primeira Grande Guerra

 O domínio da oligarquia – De 1898 a 1919, aproximadamente, a República foi a expressão quase exclusiva do governo dos grandes fazendeiros de café e do predomínio dos dois estados mais poderosos da federação: São Paulo e Mi­nas. A "política do café com leite" manteve-se praticamente inabalável, mesmo na presidência do marechal Hermes da Fonseca (1910-1914), quando dominou a figura de Pinheiro Machado, presidente do Senado e representante da oligarquia gaúcha. No mais, o PRP e o PRM (parti­dos republicanos paulista e mineiro) se reveza­ram no poder sem grandes transtornos.

As novas valorizações do café – Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914­1918), o Brasil, cuja economia estava voltada para o mercado externo, sofreu imediatamente suas consequências. Não só porque, a partir de 1917, participou diretamente do conflito, mas sobretudo porque a guerra desorganizou o mercado internacional, trazendo novas dificuldades para a exportação do café, que outra vez teve o seu preço em declínio.

Essa nova situação determinou a segunda valorização do café, entre 1917 e 1920, embora menor do que a primeira, decidida no Convênio de Taubaté (1906).A crise cafeeira foi resolvida em 1918, com a geada e o fim da guerra, quando então a economia internacional retomou o seu ritmo.

A principal consequência da Primeira Guerra foi, entretanto, a alteração nas condições do comércio cafeeiro, em virtude da formação de grandes organizações financeiras que passa­ram a atuar, cada qual em seu setor, pratica­mente sem concorrência. O grupo Lazard Brothers Co. Ltd., de Londres, que apoiou a segunda valorização, estabeleceu um domínio financeiro quase completo sobre a economia cafeeira do Brasil.

Em resposta à nova situação, criou-se em São Paulo o Instituto do Café, destinado a controlar o comércio exportador do produto, regulando as entregas ao mercado e mantendo o equilíbrio entre a oferta e a procura.

Como o Brasil era responsável pelo fornecimento de cerca de 60% do consumo mundial, o Instituto do Café tinha em mãos todos os recursos de que necessitava, não só para manter o preço, como também para forçar altas artificiais. O instituto, que tinha como objetivo regular o escoamento do café, trans­formou-se num estocador cada vez maior do produto.

Contradições da valorização – Precisamente por causa dessa política de valorização permanente, que mantinha artificialmente o preço do café, estimulou-se ainda mais a sua produção (o número de cafeeiros em 1924 era de 949.000.000, passando em 1930 para 1.155.000.000).

Essa situação artificial não poderia ser mantida indefinidamente, pois a capacidade de estocagem estava diretamente ligada ao apoio financeiro que se obtinha no exterior. Em 1929, como veremos adiante, a crise geral do capitalismo tornou insustentável o esquema.

O Processo de Industrialização

  A origem e as condições da industrialização – Até fins do século XIX, a economia brasileira continuou essencialmente agrária e ex­portadora. Na região amazônica, produzia-se e se exportava borracha. No norte e nordeste, açúcar, algodão, fumo e cacau dominavam. No Rio de janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, o café ocupava o primeiro lugar. No Rio Grande do Sul produziam-se couro, pele, mate e se exportava para outras regiões do Brasil o charque.

Porém, no final do século XIX, esse quadro dominado pela economia agroexportadora começou a se transformar. Entre 1886 e 1894, a industrialização ganhou impulso, embora a sua origem fosse anterior a 1880. Contudo, o surgi­mento e o desenvolvimento das indústrias estiveram intimamente relacionados ao desempenho daquela economia primário-exportadora. Isso até a crise de 1929, quando então a economia agroexportadora foi superada pela industrialização, que passou a ocupar o centro vital da economia.

A industrialização não ocorreu em todo o país simultaneamente e com a mesma intensidade. O seu pólo dinâmico situava-se no sudeste, particularmente em São Paulo, onde se localizava a mais poderosa economia exportadora: a cafeicultura.

A economia cafeeira paulista, desenvolvendo-se no contexto da transição do trabalho es­cravo para o livre, e com ampla possibilidade de expansão nas terras férteis do Oeste, converteu-se na mais próspera das economias agroexportadoras. E, por essa razão, foi ali que a industrialização desenvolveu-se mais rapidamente.

De início, a industrialização fazia parte da economia cafeeira, ou melhor, do "complexo cafeeiro", pois a produção e a exportação do café dependiam de uma complexa organização de fatores. Além da esfera propriamente de sua produção, o complexo incluía ainda o seu processamento, um sistema de transporte (ferrovias), comércio de importação e exportação, bancos e, por fim, indústrias.

O processo de industrialização, por isso, acompanhou o ritmo do setor exportador - não apenas cafeeiro. Em momentos de expansão, os investimentos industriais aumentavam, e se contraíam em momentos de retração do mercado internacional. Até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Estado não adotou nenhuma política de estímulo à industrialização. No entanto, ela era estimulada direta ou indiretamente quando o governo aumentava as tarifas alfandegárias e, sem o pretender, acabava protegendo as indústrias da concorrência estrangeira, ou

quando desvalorizava a moeda nacional desestimulando as importações, ou então quando adotava as duas medidas ao mesmo tempo.

A indiferença do governo em relação à industrialização tinha a ver com o modelo econômico agroexportador que o Brasil herdara da colônia. Segundo esse modelo, o Brasil exportava produtos tropicais e, em troca, importava produtos manufaturados. Essa tradição persistiu na economia cafeeira e, como vimos anteriormente, o fazendeiro, através de seu comissário, realizava compras para si e para os escravos nas grandes casas importadoras, que forneciam a quase totalidade dos produtos de consumo de origem industrial. Portanto, segundo o modelo agroexportador não havia necessidade de desenvolver a industrialização. Contudo, a produção em pequena escala de produtos manufaturados estava disseminada pelo Brasil em pequenas oficinas artesanais.

O primeiro passo no sentido da industrialização foi dado com a substituição dessa peque­na produção por unidades industriais maiores. E isso começou a acontecer no final da década de 1870, quando então a abolição da escravatura encontrava-se na ordem do dia e a solução imigrantista começou a ser considerada como alternativa. No bojo desse processo, alterou-se também a estrutura do mercado, com a gradual eliminação do comissário como intermediário no comércio exportador/importador: os ex­portadores (estrangeiros) foram direto aos produtores e os importadores espalharam representantes pelo interior.

Com as poderosas casas importadoras controlando o mercado, agora em contato direto com os consumidores, estava claro que o desenvolvimento industrial só seria viável se contasse com uma rede de distribuição do mesmo tipo. Dessa situação, saíram duas soluções: a primeira foi a dos próprios importadores montando indústrias, e a segunda, a dos industriais criando a sua rede comercial, dando origem aos importadores-industriais e industriais-comerciantes, respectivamente.

Na opinião de alguns estudiosos, os industriais saíram da fileira dos cafeicultores. Estudos mais recentes, entretanto, mostraram que a burguesia industrial era constituída principalmente, embora não exclusivamente, pelos imigrantes. É o caso de Francisco Matarazzo, um de seus representantes típicos.

Os efeitos da Primeira Guerra – O processo de industrialização, que vinha, desde o final do século XIX, crescendo de acordo com a expansão das exportações, ganhou uma nova direção a partir da Primeira Guerra.

O primeiro efeito da guerra foi a drástica redução dos investimentos industriais. A produção, todavia, se expandiu em 1915-1916 com a utilização plena da capacidade instalada, mas começou a declinar em 1917 e o seu crescimento tornou-se negativo no ano seguinte, pela falta de matérias-primas, máquinas e equipamentos importados.

O principal efeito da guerra sobre a indústria foi a mudança da atitude do governo. Até então, não existia o que poderíamos chamar de política industrial. A guerra, entretanto, evidenciou os limites e as inconveniências de um país destituído de um parque industrial compatível. Por esse motivo, o governo começou a adotar consciente e deliberadamente um incentivo para o desenvolvimento industrial, a fim de promover a sua diversificação. E essa atitude do governo manteve-se ao longo dos anos 20.

A crise de 29 – No final dos anos 20, a economia capitalista internacional deparou com uma profunda crise de depressão: a crise de 29. Conforme veremos mais adiante, essa crise eclodiu nos Estados Unidos e teve importantes repercussões internacionais, atingindo, inclusive, o Brasil, quando então a economia cafeeira se desorganizou.

Nos anos que se seguiram à crise, com o apoio governamental, a industrialização se intensificou e obedeceu ao objetivo de substituir as importações. Porém, o processo de industrialização só se completaria na década de 1950, com a implantação da indústria pesada - o importante setor em que se concentram máquinas que fabricam máquinas para outras indústrias.

Os anos 20 – A partir da abolição da escravatura em 1888, o desenvolvimento do Brasil segue um padrão marcadamente capitalista, tanto no segmento agrícola (café) quanto no urbano (industrialização). No plano internacional, o período que vai da Segunda Revolução Industrial (final do século XIX) à crise de 29 representa a fase final de uma era dominada pelo capitalismo liberal, caracterizado pela não-intervenção estatal na economia e, portanto, na crença da auto-regulação da economia através do livre jogo do mercado. Na década de vinte, esse capitalismo (liberal) entra em crise.

Sintomas agudos dessa crise que anunciam as mudanças futuras serão representados, no Brasil, pela Semana de Arte Moderna e pelo Tenentismo.


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